Deu vontade de escrever, mas a pausa continua...
6 reflexões financeiras diretamente do meu sabático.
Escrevo este texto da praia. E isso só é possível porque neste exato momento (assim como tantos outros), meu marido está brincando com meu filho de alguma coisa que acabaram de inventar. Só aqui já daria uma reflexão financeira, mas calma, vamos chegar lá.
Meu último texto foi em dez/23. Ali, falei que daria uma pausa. E dei. Inicialmente, a ideia era voltar em março, mas nunca parecia ser “a hora”. Naquela época, estava concluindo os atendimentos da consultoria e na reta final dos preparativos do sabático. Foi a primeira vez que me vi prestes a realizar uma viagem de mais de 3 semanas e os pontos a planejar eram BEM diferentes (e um tanto quanto demandantes).
E foi assim, meio sem querer querendo, que eu nunca mais voltei a escrever aqui. Até que hoje resolvi quebrar essa pausa. Antes, um breve contexto para quem chegou agora (o número de inscritos nesta newsletter dobrou de lá pra cá, já passamos de mil – yeyy).
Em 12/05/24, meu marido, meu filho e eu embarcamos rumo a um sonho que começou a ser planejado 2 anos antes: o nosso período sabático de 6 meses viajando pela Europa em família, sem qualquer tipo de trabalho ou compromisso.
Contei um pouco mais sobre como foi esse planejamento lá no podcast. Você faz ideia do quão diferente é planejar uma viagem de SEIS MESES? Já viajei bastante por quase todos os continentes (ainda falta a Oceania), mas a lógica do planejamento de um sabático é outra, ainda mais se você leva sua saúde financeira a sério (definitivamente o meu caso).
Sai aluguel de carro, entra leasing por 1/5 do preço. Sai hotel, entra estadia longa do airbnb com desconto mensal. Sai seguro viagem de férias, entra seguro voltado para nômades digitais (não sou nômade, não pretendo ser, mas finalmente estão surgindo produtos voltados para esse segmento e super úteis para quem pretende realizar uma viagem longa).
A lista é extensa e poderia citar outros exemplos, mas aqui já fica a REFLEXÃO #1: seis meses de sabático não precisam custar o mesmo que seis meses de férias. Contudo, é preciso pensar e planejar DIFERENTE. Quantas vezes fazemos algo baseados naquilo que sabemos (e repetimos) sem pensar nas diversas outras possibilidades que trariam o mesmo resultado com um menor custo?
Desde o dia do nosso embarque, já se passaram quase 4 meses, mas a sensação é que já vivi TÃO MAIS do que isso. Existe o tempo de Chronos e existe o tempo de Kairós. Enquanto o primeiro está atrelado aos segundos, minutos e horas do relógio, o segundo é o que faz o tempo ser memorável, não pelos números, mas por sua intensidade. É como se 1 dia no tempo de Chronos representasse 10, 20, 30 dias no tempo de Kairós. Não existe uma equação. O tempo de Kairós é único e sentido de diferentes formas por cada um.
E aqui, já fica a sempre tão falada (e ironicamente negligenciada) REFLEXÃO #2: é imperativo sabermos usar e usufruir do nosso tempo, o recurso mais finito e escasso de todos. E não tem mágica, o dinheiro, outro recurso escasso, assume um papel vital para que o tempo possa ser de fato aproveitado. Saúde (física e mental) em primeiro lugar, sempre. Mas sem saúde financeira, teremos uma vida limitada.
Por favor, não deturpe a mensagem acima e saia gritando aos 4 ventos que, por isso, precisamos aproveitar somente o aqui e agora. É uma escolha perigosa, tal qual andar na beira de um precipício. Se hoje sinto que 1 dia valem por 10 é porque no passado fiz escolhas que trouxeram a segurança necessária para usufruir do momento presente. E não, não deixei de viver no processo. Aliás, o que é viver afinal?
Calma. Não vou entrar nesse buraco filosófico (apesar da tentação ser grande, não nego). Comecei este texto falando que meu marido e meu filho brincavam de alguma coisa que acabaram de inventar, lembra? Bem, a real é que do primeiro parágrafo pra cá, este texto já foi interrompido algumas vezes. Enquanto retomo os pensamentos, a brincadeira de fazer estacionamento com as pedras agora virou o clássico dos clássicos: fazer uma piscina na areia com uma pá.
Entramos agora na REFLEXÃO #3: crianças não precisam de um milhão de brinquedos. "O brinquedo mais sadio do mundo é o brinquedo chamado Natureza." Rudolf Kischnick. Tem como discordar?
Mas acredito que isso também vale para os adultos. O mundo não precisa de mais consumismo. Trouxemos 1 mala grande, 1 mala média e 1 mala de mão. Pegamos de 10 a 40 graus. Trouxemos do casaco de frio ao biquíni. Da bolsa de remédios aos brinquedos. O que tivemos que deixar no Brasil? O exagero! Tá, na parte dos remédios rolou um pequeno exagero, é verdade, mas, dessa parte, não abro mão.
Meu lado que clama por segurança sempre tem voz. A beleza é que essa voz agora também cede espaço para voz que clama por liberdade. E tem coisa mais livre do que ter pouco peso para carregar? Aqui, a metáfora é com as malas, mas serve pra tudo.
Se é leveza que tanto buscamos em nossas vidas, a REFLEXÃO #4 é mais do que óbvia: precisamos parar de colocar nossos próprios pesos (e consumismo costumar ser uma pedra bem pesada)! Leveza, no fim do dia, é um ato de responsabilidade com as próprias ações.
Isso já me leva à próxima reflexão. Mesmo estando num sabático, continuo sendo diligente com minhas finanças. Estamos aproveitando MUITO e surpreendentemente gastando menos do que o estimado. A quantia que separamos em euro provavelmente durará até o último dia. Toda a renda passiva dos investimentos que geram rendimentos tem sido integralmente reinvestida, ainda que a ideia inicial fosse usar parte na viagem.
E assim, temos a REFLEXÃO #5: a gente não cuida das nossas finanças durante uma época da vida e depois dá “tchau”. É para sempre (o que não significa que será para sempre igual). Se você almeja uma vida longeva com qualidade, cuidar das suas finanças fará sempre parte desse processo chamado “viver”, assim como cuidar da sua saúde física e mental.
Inicialmente, este texto acabaria aqui, contudo tive que adicionar uma outra, já que um “fato relevante” ocorreu até a presente data.
Para a REFLEXÃO #6 vou direto ao ponto (e me explico depois): tem horas que é preciso jogar dinheiro no problema!
Sei que essa frase pode causar sentimentos diversos. Não me entenda mal. Dinheiro NÃO resolve tudo. Agora, sejamos sinceros: tem horas (muitas horas?) que a presença de dinheiro é um fator crucial para o nosso bem-estar. Por mais que seja fã do estoicismo, busque ser resiliente e entenda que viagem pressupõe movimento e movimento aumenta a probabilidade de “problemas”, o intuito dessa viagem NÃO era passar perrengue.
Veja bem, isso não significa que perrengues sejam inexistentes, mas, repito: o intuito não era esse (entendo quem goste, mas não era nosso objetivo, ainda mais com uma criança de 4 anos). Em uma das nossas estadias em Montenegro, tivemos um problema com a água. Começou já na nossa chegada, com um dia sem poder tomar banho. Depois, a água voltou, mas com um aspecto bem estranho a tal ponto que até cozinhar e fazer café exigiam água mineral de garrafa. O banho não era dos melhores, mas ok, “faz parte” um pouco de perrengue e vamos levando, afinal, a casa é boa, a vista é linda e está um ABSURDO de caro conseguir qualquer estadia em cima da hora no auge do verão europeu (agosto). Vou poupar vocês da novela com o Airbnb, mas o fato é que após eu sair verde do banho parecendo o incrível Hulk, resolvemos “jogar dinheiro no problema” e mudar de hospedagem no mesmo dia.
Fugimos para as montanhas, literalmente, arcando com o prejuízo para não estragar nossa experiência que, até então, era a melhor possível. Foi a melhor decisão! Mas e se não tivéssemos dinheiro para isso? Perrengues engrandecem até certo ponto e eu poupo e invisto por tantos anos justamente para evitá-los. Caso contrário, era melhor gastar tudo agora e passar perrengue no futuro, não é mesmo?
Vou parar por aqui porque já escrevi mais do que devia. Acho que era a saudade que estava deste espaço (e porque sou a pessoa do textão rsrs de nervoso)! Não tenho certeza de quando voltarei, mas se você chegou até aqui, me manda uma mensagem respondendo este e-mail ou deixando um comentário! Vai ser ótimo saber como essas 6 reflexões ressoaram aí. Até a próxima! ;)
Que alegria voltar a ler um texto seu!
Do meu lugar de fã, posso dizer que amo ouvir você e a Vic. Mas a leitura carrega um lugar especial no meu coração também. Parece que a mente pode ir longe, porque fica mais fácil retomar o ponto de onde parei...
Esses reflexões que você trouxe são tão válidas. Sabe que a gente também gastou menos do que o esperado durante o sabático? Realmente sabático tem um ritmo diferente de férias, e esse ritmo menor, traz gastos menores também. É até interessante ponderar o quanto a "pressa" do dia a dia faz com que a gente gaste mais. Será que, as vezes, basta reduzir o ritmo pra gastar menos?
Ler seu texto hoje me trouxe várias lembranças nostálgicas da minha pausa. E inclusive eu entendo esse sentimento de, no meio da pausa, querer colocar os pensamentos em papel. Já imaginar como vai ser a volta. Antecipar alguns projetos! Fico feliz que a newsletter esteja dentro desse combo ;)
Eu não preciso repetir o quanto você me inspira, né, Carol? Sempre muito lúcida, fazendo recortes e apontamentos necessários para que a meensagem seja compreendida. Mais um texto que dá vontade de imprimir colocar na porta do guarda roupa pra ler todo dia!