Já faz um bom tempo que escuto “você vai precisar de mais armários”... Não me lembro ao certo quem me falou isso pela primeira vez, mas o fato é que internalizei o conselho. Talvez não da forma que você está pensando, mas, de algum modo, o alerta ecoou em mim.
Moro no mesmo apartamento desde que me casei (2012). Derrubamos o terceiro quarto para ampliar a sala e, durante muitos anos, o segundo quarto ficou praticamente inutilizado. Exceto por um elemento: o armário. Roupa de cama, pastas com papéis, casacos de frio, tudo isso ocupava PARTE do armário do segundo quarto. Contudo, a frase “você vai precisar de mais armários” estava cravada ali no meu inconsciente e, talvez por isso, fiz questão de deixar gavetas e prateleiras vazias desde que me mudei.
Em um dado momento, cheguei a ocupar outra parte desse armário com minhas roupas. Acreditava que o armário do meu quarto (dividido com meu marido) não era suficiente e que era meio óbvio usar um pedaço do espaço inutilizado. Mas não durou muito tempo... Comecei a achar que perdia muito tempo tendo que abrir armários em cômodos diferentes e, mais do que isso, comecei a me incomodar: será que eu precisava daquilo tudo de roupa? Me deu um estalo e veio a sensação que se seguisse por esse caminho, ocuparia todos os espaços que visse pela frente.
Tratei de organizar minhas roupas, praticar o desapego e estabeleci como regra que não deveria ocupar o armário do segundo quarto com meu vestuário. Afinal, “você vai precisar de mais armários quando o bebê chegar”, eles disseram.
Eis que o bebê chegou. E os armários estavam liberados! Ufa! Pacotes de fraldas, roupinhas, artigos que sequer sabia que existia. Ainda assim, a parafernália não foi suficiente para lotar todos os espaços. Meu inconsciente ainda demandava: deixe espaços livres, pois você vai precisar de mais armários. Assim o fiz.
Quando meu filho tinha somente 4 meses, vivenciamos o inimaginável: uma pandemia. Confesso que, pela primeira vez, senti falta de espaço. Mas jamais de armários. O tempo passou. O novo normal se instaurou e lá veio o conselho novamente: “você vai precisar de mais armários”. Mas será possível? O argumento é que meu filho logo passaria a ter muitas tralhas, brinquedos e eu precisaria ter onde colocar aquilo tudo. A essa altura, eu já estava vacinada e ficava orgulhosa de ainda ter (muitos) espaços de armários vazios na minha casa.
Entretanto, o “desafio” passou a ir além: “você vai precisar de um escritório”. Mas seria um único escritório suficiente? Afinal, tanto eu quanto meu marido precisaríamos desse espaço. Quando dei por mim, estava pesquisando outros apartamentos sem ter parado para refletir o óbvio: será que é realmente de um escritório que precisamos? Ou será que precisamos de mais espaço nas nossas vidas?
As perguntas certas são mais importantes do que as respostas. Mas o que é óbvio para minha família (e para os nossos anseios), não é óbvio para quem vê de fora. Quem vê de fora enxerga os bens materiais, as posses, o que é tangível a olho nu. A armadilha de olhar mais para fora do que para dentro é que “quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”, como diria o sábio Carl Jung. Sonhar é legal, mas eu preferi despertar.
Hoje cedo, escutando um podcast que estou viciada (45 do Primeiro Tempo), ouvi o Patrick Santos falando uma grande verdade: precisamos descomprimir. É preciso abrir espaço para as coisas boas surgirem na vida. Quando vivemos no loop casa > trabalho > casa, naquele modelo automático sem pausas, fica difícil ter o espaço necessário para que novas coisas boas surjam na vida. Fica quase impossível deixar a vida nos surpreender positivamente.
Eu já vivenciei o que o Patrick mencionou e não poderia concordar mais. É preciso abrir espaço. O guarda-roupa necessita de gavetas e prateleiras vazias. Sua vida necessita de menos tranqueira. A pausa pode ser mais simples do que se imagina. “Menos é mais” nunca fez tanto sentido.
Obrigada a todos que me alertaram que eu “precisaria de mais armários”. O conselho reverberou de uma forma inusitada para outras esferas e foi fundamental para eu deixar espaços vazios para o que realmente importa nessa vida: desfrutá-la.
Aproveitando o gancho do tema de hoje, informo que farei uma pequena pausa na publicação desta newsletter. As consultorias financeiras estão mais intensas do que o habitual, dado que farei uma grande pausa (olha ela aí novamente) nos atendimentos a partir do segundo trimestre do ano que vem. Em janeiro terei um pico de atendimentos e quero, deliberadamente, liberar mais espaço para isso, sem impactar outras áreas que valorizo na minha vida. Acredito que em fevereiro estarei de volta por aqui, mas deixando muito espaço para que esse retorno aconteça quando eu achar pertinente. Enquanto isso, vale ler e reler as 32 edições anteriores, pois garanto que todas elas são atemporais e podem contribuir na sua jornada para a Independência Financeira. Até breve! =)
Li, Vi e Ouvi.
Li: Casa arrumada, vida leve: o poder da organização, da Nalini Grinkraut. Muito bacana esse livro, pois vai além de dicas de organização e toca no nosso estilo de vida. A autora traz reflexões sobre como nossas emoções, personalidade e rotina influenciam o ambiente em que vivemos e vice-versa. A forma como lidamos com a organização da nossa casa pode dizer muito sobre nossa relação com dinheiro também. Gostei bastante!
Vi: em geral, não sou apegada a nenhum canal do youtube. Mas o da Fe Neute é uma exceção. Ela não publica mais, mas seus vídeos seguem atemporais. Este, em específico, trazendo 30 dicas para simplificar a vida o ano todo me ajudou a perceber que tenho muito espaço no armário para liberar ainda!
Ouvi: vale dar o play no podcast 45 do Primeiro Tempo de Patrick Santos. São vários episódios maravilhosos e estou completamente viciada. Patrick é jornalista e tinha um cargo executivo na Jovem Pan quando decidiu realizar uma pausa para repensar sua vida e sua carreira. Entrevistas com conteúdo de altíssima qualidade.
Ótima reflexão, Carol! Boa pausa, e até o seu retorno =)