Quem se protege não cresce.
#18 Por que deveria querer a proteção da Independência Financeira então?
Acabo de ouvir, pela segunda vez, o episódio “O que é felicidade para você?” da Carol Garrafa como convidada do Ricardo Basaglia (inclusive, recomendo demais o podcast dele “Lugar de Potência”). Dentre as diversas reflexões trazidas por ambos, a frase “quem se protege não cresce” chamou minha atenção e até o final deste texto você vai entender o porquê.
Engraçado que tem basicamente um ano que ouvi esse episódio e hoje, de forma completamente aleatória, me deu vontade de dar o play novamente. E foi assim que constatei: eu não sou mais a mesma.
Quando comecei, em 2021, a compartilhar sobre Independência Financeira eu não fazia ideia do que estava por vir. Eu apenas sentia uma vontade muito grande de falar sobre o tema com outras pessoas, mas sem me esconder atrás de avatares (algo tão comum no universo FIRE). Queria ser uma pessoa real falando com outras pessoas reais. Ter um espaço para dividir o que havia aprendido com quem quisesse me ouvir e dialogar.
Parece algo simples, mas essa decisão de me expor foi um passo muito bem pensado (guardem essa palavra) e ponderado. Não costumo ser impulsiva, então pesei todos os prós e contras com meu marido, meu grande parceiro nessa jornada. Resolvi fazer um teste, se não curtisse a experiência era só parar.
No meio do caminho, muita coisa aconteceu. Constatei que as pessoas queriam falar sobre dinheiro, sim! Mas, muitas vezes, encontravam um interlocutor machista com um vocabulário recheado de “economês” para ganhar autoridade. Desde o início, optei pelo caminho mais fácil de ser sustentado no longo prazo: ser eu mesma. Parece uma decisão óbvia, mas, acredite, não é.
Almejar a IF na sociedade de consumo que vivemos já é, por definição, remar contra a maré. Envolve um processo de autoconhecimento e percepção apurada sobre fazer escolhas. Eu já estava acostumada a refletir sobre a vida e minhas decisões. Mas uma coisa era fazer isso de modo completamente privado, outra era compartilhar o assunto e até mesmo ensinar outras pessoas a trilharem seus objetivos financeiros.
E foi justamente ensinando que pude aprender mais sobre mim mesma. Curioso, não? Percebi que o meu modelo mental tão racional e pragmático era sim capaz de muitas coisas, por outro lado, limitava tantas outras.
Era tanto PENSAR que faltava espaço para o SENTIR. Não é à toa que precisamos treinar e desenvolver nossas famosas “hard skills” e “people skills”. Enquanto na primeira eu nadava de braçada, na segunda tinha MUITO (ou melhor, tenho) a evoluir.
Finanças é muito mais do que matemática. É comportamento na veia. Sempre soube disso, é verdade. E confesso que tive a perspicácia para entender essa parte comportamental a meu favor durante a minha jornada. Mas o que funcionou para mim não deve ser receita de bolo para ninguém. Pelo contrário, uma jornada para a IF envolve MUITO protagonismo de quem decide alcançá-la.
Só que todo esse protagonismo requer o famoso (e muitas vezes banalizado) autoconhecimento. Requer sair da nossa zona de conforto. Impõe que a gente saia do piloto automático de escolhas que nos foram impostas e incorporadas de maneira inconsciente ao longo da vida.
Os números, as fórmulas e projeções nos darão pistas e indicarão alguns possíveis caminhos. Mas jamais substituirão nossas escolhas. Como tomar melhores decisões financeiras então? Eu realmente acredito que um bom planejamento financeiro individualizado para o contexto e objetivos da pessoa pode ajudar demais nesse processo. Contudo, é preciso ir além. Afinal, um plano só gera algum resultado se for executado.
E foi assim, ajudando dezenas de pessoas a construírem e executarem seu planejamento financeiro na prática que constatei: encontrei um propósito sem estar procurando por ele.
Se alguém me falasse há 3 anos que eu seria Planejadora Financeira eu responderia que nem sabia que essa profissão existia. Mas ela existe. E se nos basearmos pelo que aconteceu lá fora, tende a ser uma carreira em ascensão no nosso país. O engraçado é que quando as pessoas começaram a pedir pela consultoria eu dizia que não fazia. A síndrome de impostora batia forte. A autocobrança também. Era mais fácil continuar na minha zona de conforto e “só” compartilhar o que sabia sem “querer nada em troca”. Hoje percebo que era apenas o meu ego amedrontado de falhar.
Só que os pedidos continuaram e foi aí que me dei conta: não conhecia ninguém que tinha alcançado a IF para indicar (não que isso seja um pré-requisito para a profissão, mas me soou como um alerta do quanto eu estava me subestimando). Os poucos que compartilham que chegaram lá se escondem atrás de avatares aterrorizados com a exposição (não julgo, de verdade) ou não estão dispostos a dividir seus aprendizados com desconhecidos de maneira estruturada.
Como escrevi no título, quem se protege não cresce. E eu ainda me acho muito nova para parar de crescer. Gosto de um desafio. Gosto de me sentir produtiva. Gosto de contribuir. E fazer isso tendo poder de escolha com o lado financeiro equacionado é um privilégio (conquistado) que a IF me proporciona.
A pessoa que vos fala disse que jamais empreenderia (assim como havia dito que jamais faria concurso e hoje considera que essa foi uma das melhores decisões que tomou na vida)... E olha lá, sem querer querendo, me tornei sim uma empreendedora. Mas do jeito que EU me identifico. Não sou a pessoa do impulso. Não sou a pessoa do tudo ou nada. Não sou a pessoa do super apetite ao risco. Sou pés no chão. Essa é minha essência e acho que ela pode ser utilizada a meu favor.
Quero exercer o meu poder de escolha. Quero ter um modelo de negócio que se sustente conciliando as diferentes esferas da minha vida. Quero poder sonhar sem ter pesadelos com o lado financeiro. Quero a tal da proteção, mas agora ciente que jamais poderei estar 100% protegida o tempo todo.
Sou muito grata à Carolina de 18 anos que planejou e executou esse plano para a IF, mesmo sem saber onde tudo isso ia levar. Definitivamente, ela não imaginava que a Carolina de 36 anos estaria escrevendo esse texto hoje. O mais engraçado disso tudo? A Carolina de 34 anos também não imaginava. A vida muda. E pode mudar bem rápido.
Como bem pontuado pela Carol Garrafa (haja “Carol” kkkk) no podcast que mencionei no início deste artigo: despertar para quem você é requer desapego de quem você acredita ser. E eu venho me desapegando…
É preciso coragem para querer se conhecer. E é preciso se conhecer para sustentar uma jornada para a Independência Financeira (mesmo quando ela já foi alcançada). Continua sendo imperativo a autorresponsabilidade para o presente e futuro. E o que faz sentido pra mim não necessariamente tem que fazer sentido pro outro. Escolhas, escolhas, escolhas...
Ah, e pra finalizar... Esta semana saí da minha zona de conforto (mais uma vez) e fiz a minha primeira live com meu amigo @vabo23.
Falamos sobre como a Saúde Financeira se conecta com a Saúde Mental. Se você gostou do artigo de hoje, acho que vai curtir assistir (é só clicar aqui).
Não sei fingir costume que até o Bernardinho esteve por lá e vou deixar o print para me lembrar pra sempre que quando saímos da nossa zona de conforto e transbordamos para o mundo aquilo que nos é “natural”, coisas maravilhosas podem acontecer. Não precisamos fazer isso o tempo todo, é verdade, mas vez ou outra é mais do que saudável para a nossa evolução, afinal, quem se protege não cresce. Até a próxima! 😉