Qual nota você dá para a sua saúde financeira?
#25 Faça uma rápida autoavaliação por meio desses 4 pilares.
Você já realizou um check-up da sua saúde física alguma vez? Ainda que não tenha feito de forma completa, imagino que, ao menos, um exame de sangue já tenha rolado por aí, certo?
Ao pegar os resultados, dá aquela curiosidade: como será que eu estou? As taxas de colesterol e glicose costumam ser as mais famosas no rol de pessoas leigas (eu!). Basta dar aquela comparada com a taxa de referência e pronto, já tenho um indicador se estou bem ou não. Hum, será?
Aprendi desde cedo que não. Desde os meus 20 anos, época que comecei a fazer exames de sangue regularmente por conta das exigências corporativas, descobri que a minha glicose em jejum estava sempre na casa de 110-115 mg/dL, sendo que o normal deveria ser inferior a 99 mg/dL. Fui orientada a fazer atividade física e melhorar a alimentação. Esse período marcou uma grande virada positiva na minha vida: conheci a corrida e, após insistir (muito), me apaixonei por ela.
Algum tempo se passou, já não era mais sedentária e me alimentava bem melhor. Contudo, ao repetir os exames, nada mudava. Minha taxa nunca vinha menor que o tal 99 mg/dL.
Passei por alguns endócrinos e precisei tomar remédios. Resultado: comecei a experimentar um mal-estar absurdo a ponto de ter desmaiado num ônibus enquanto ia para o trabalho. Os remédios para uma suposta diabetes tipo 2 estavam causando episódios de hipoglicemia (se você não sabe o que é isso, não queira saber, é horrível).
Após alguns anos testando diferentes medicações, nada mudou. Com ou sem remédio, comendo ou não doces, minha glicemia em jejum continuava a mesma. Você deve estar se perguntando o que isso tudo tem a ver com a sua saúde financeira. Aguarda só mais um pouquinho que já já você vai entender.
Nesse “meio tempo”, minha cunhada se formou em endocrinologia e vendo a minha saga por diferentes médicos/remédios e conhecendo meu histórico familiar me alertou: “Carol, é muito provável que você tenha Diabetes tipo Mody, uma mutação genética bem rara e que, a depender do caso, não requer medicação, apenas a manutenção de um estilo de vida saudável e outras precauções durante a gestação”. Pela primeira vez, alguém havia me apontado o caminho correto (mérito dela que é uma excelente médica). Encurtando bem a história, participei de um estudo da Fio Cruz sobre essa mutação e atestei, através de um exame genético, o que minha cunhada havia falado.
Assim como na medicina, existem diversos indicadores para avaliar como está a sua saúde financeira. Eles trazem importantes indícios, mas vistos de maneira isolada sem considerar o contexto individual de cada pessoa, podem levar a conclusões precipitadas. E, pior, ao invés de ajudarem no processo, podem complicar (qualquer semelhança com os episódios de hipoglicemia não é coincidência).
Portanto, ao invés de adentrar neste artigo abordando indicadores financeiros de liquidez, índice de cobertura, patrimônio esperado para a idade, percentual de comprometimento, taxa de aporte ou índice da renda passiva (apenas para citar alguns exemplos), proponho que hoje você realize uma autoavaliação da sua saúde financeira a partir de 4 diferentes óticas.
Se eu te pedisse agora para dar uma nota de 1-10 para a sua vida financeira, sendo 1 muito insatisfeito e 10 muito satisfeito, qual nota você daria?
Já tem a resposta? Não? Então pensa mais um pouco antes de seguir adiante. Chegou na nota? Agora te proponho um novo olhar.
Esqueça um pouco a nota “global” que você se deu. Aqui, proponho que você dê uma nota de 1-10 para si mesmo, considerando cada um dos 4 pilares: GANHAR. POUPAR. INVESTIR. GASTAR.
Ganhar? Nota de 1-10.
Poupar? Nota de 1-10.
Investir? Nota de 1-10.
Gastar? Nota de 1-10.
Percebe como nossa saúde financeira está indiretamente relacionada a cada um desses pilares? Percebe também que ser muito bom em só um deles não quer dizer muita coisa?
Talvez você esteja sentindo falta de algum balizador para poder chegar na sua própria nota. Aquele famoso benchmark (referência)! Cuidado com isso. De verdade.
Quando estamos falando de finanças pessoais, a racionalidade deve contar sim, mas talvez menos do que você imagina. Esse simples exercício, ainda que subjetivo, poderá trazer importantes insights se você realmente estiver disposto a ser sincero com você mesmo.
Ouso dizer que a maioria vai atribuir nota mais baixa para “investir”. Pela minha experiência, afirmo com convicção: sua saúde financeira não reside em uma carteira recomendada. Reflita um pouco sobre seus últimos meses e anos. Suas metas estão sendo batidas? Se sim, por qual motivo? Se não, por qual motivo?
“Oi, metas?” você pode estar se perguntando. Sim, é preciso saber precificar os seus sonhos, traçar rotas para alcançá-los e, o mais importante: saber mensurar o seu progresso e avaliar as bifurcações que ocorrerão ao longo do caminho.
A jornada para Independência Financeira requer mais do que disciplina… Requer que você seja sincero consigo mesmo. Os números não mentem, mas podem passar mensagens equivocadas se não forem contextualizados no nosso planejamento de vida.
O conceito de ter uma aposentadoria, por exemplo, existe há, no máximo, duas gerações. O motivo? Antes da Segunda Guerra Mundial a maioria das pessoas trabalhava até morrer. Só que o modelo de aposentadoria por idade que nossos pais aprenderam já não se sustenta mais na nossa geração. O que antes era uma “nota 10” pode virar uma “nota 6” se você não conseguir expandir o horizonte da sua autoavaliação. Quais outros pontos podem estar sendo negligenciados pelo vício das suas próprias lentes?
Nossas experiências pessoais moldam a nossa forma de enxergar o mundo. Que bom! Exatamente por isso, não faria sentido cuidarmos da nossa saúde financeira tal qual cuidamos da nossa saúde física? De novo: os números são importantes, sem dúvidas. Mas será que (somente) eles definirão o caminho mais adequado a seguir? O indicador da minha glicose tá aí para provar que não. Até a próxima! 😉
Carol, adorei esses critérios. Já tem alguns meses que tenho refletido profundamente sobre os resultados das minhas escolhas financeiras, que têm me deixado distante da minha liberdade (não num sentido filosófico, mas de ter paz e tranquilidade mesmo).
Muito obrigada por esse texto! Tenho muito o que fazer.