Porque eu “quero”
#30 O hiperpresenteamento das crianças e o impacto que isso causará na saúde financeira delas.
Amanhã é dia das crianças. Vai ter presente aqui em casa? Vai! Educação financeira não é sobre não dar presentes. Não é sobre ter culpa ao gastar. Educação financeira é sobre ter consciência das escolhas, ter tranquilidade e conseguir realizar sonhos. Mas será que estamos preparando nossos filhos para isso? Ou, ainda mais importante, será que NÓS estamos preparados?
“Uma em cada 10 crianças brasileiras recebem 50 presentes por ano – datas comemorativas à parte. Mais da metade (54%) dos pais dizem que a compra de “mimos” para os pequenos acontece mensalmente, mas 60% deles admite que os filhos brincam sempre com os mesmos brinquedos”.
Esses números traduzem uma realidade que não gostamos de admitir: estamos hiperpresenteando nossas crianças. Sem entrar na obviedade que o ato de presentear não substitui amor e educação, é preciso ponderarmos o impacto que o excesso de presentes causará no futuro daqueles que mais amamos.
Somos o somatório dos nossos hábitos. Se somos acostumados a um contexto de consumismo e até mesmo de uma “falsa” abundância, como iremos encarar um futuro onde os recursos, incluindo o dinheiro, são finitos?
Entender a diferença entre “eu quero” versus “eu preciso” é uma das bases da nossa saúde financeira. Contudo, saber priorizar não é algo nato, não vem de fábrica. É um processo de aprendizado que começa na nossa infância. Não à toa, por negligenciamos essa parte da educação, quando viramos adultos, encontramos dificuldades para estabelecer prioridades, focar no essencial e fazer escolhas inteligentes com nosso dinheiro.
Segundo o Serasa, 13% dos jovens entre 18 e 25 anos não pagam as dívidas dentro dos prazos. Imagina o que irá ocorrer quando a “idade oficial dos boletos” chegar? Aposentadoria? Eita, daqui a pouco essa palavra vai virar utopia se não houver consciência sobre as escolhas para o futuro.
Ainda de acordo com o Serasa: 47% dos jovens da geração Z, ou seja, que nasceram da segunda metade dos anos 90 até o início dos anos 2010, não controlam as finanças. Um em cada cinco alega não ter conhecimento e a mesma proporção admite não ter hábito e disciplina.
Vejam só: hábito e disciplina. Vejo pais extremamente preocupados em colocar o filho na natação desde novo, pois entendem que saber nadar é uma questão de segurança. Concordo 100%. Mas será que agimos da mesma forma quando o assunto é segurança financeira? De novo: as bases começam na infância.
Sabemos que falar sobre dinheiro é um tabu e isso, sem dúvidas, traz dificuldades para educar financeiramente nossos filhos. É a solução hiperpresenteá-los? Com certeza não. Aqui, vale ser repetitiva: não estou defendendo a ausência de presentes. Mas é imperativo encontrar uma dose de equilíbrio e, principalmente, entendermos o nosso papel na educação dessas crianças, incluindo o tema dinheiro. Ser o exemplo, é sem dúvidas, uma das melhores formas de educação financeira.
Ah, e vale um recado final! Os dados citados nesta edição tiveram como fonte uma matéria publicada na Fast Company Brasil. Vale a leitura na íntegra (está muito boa!), mas, como tenho total liberdade para dizer o que eu penso em prol da educação financeira de vocês, saliento que a pesquisa que embasou a reportagem foi realizada por uma fintech que tem como objetivo ajudar pais e mães a guardar dinheiro para seus filhos. A ideia é proporcionar uma “forma mais inteligente de presentear e mais fácil de guardar dinheiro para o futuro da criança que você ama”, segundo a mesma. Achei super interessante, pois você pode presentear criando “recados/vídeos” para a criança ver no futuro quando for utilizar o dinheiro e ainda pode disponibilizar para parentes/amigos presentarem.
PORÉM, o investimento precisa ser feito exclusivamente nos fundos de previdência da seguradora que eles disponibilizam. A partir daí já deixou de fazer sentido para mim. Os motivos são muitos, mas o principal é: não acho que a Previdência Privada seja o melhor veículo para investir para o futuro de uma criança, ainda mais tendo apenas uma seguradora como opção. Mas isso a gente deixa para um outro post para não me alongar demais! =)
Li, vi, ouvi e curti.
Li:
Social Media is a Major Cause of the Mental Illness Epidemic in Teen Girls. Here’s the Evidence. - post do substack do Jonathan Haidt
Ainda não sei se será na próxima edição, mas um tema que anda fermentando aqui na minha cabeça é sobre a algoritmização do pensamento e do quão danosas as redes sociais podem ser para as crianças (e para nós adultos, claro). Falei brevemente sobre isso nos meus stories e recebi o post indicado neste tópico. Li e também recomendo a leitura. É um pouco denso, em inglês, com alguns termos mais científicos, mas o recado é claro, impactante, embora não surpreendente. Trazendo a conclusão, que já consta no título, para cá: as redes sociais são as maiores responsáveis por causar transtornos mentais em adolescentes meninas. Sim, ele é categórico e traz uma série de evidências para as hipóteses levantadas (isso inclui a questão do gênero). Vale dizer, que existem outros artigos do mesmo autor que também endereçam esse tema tão importante.
Vi: Paraíso - Filme no Netflix.
O filme nos apresenta a um futuro distópico em que o tempo é literalmente dinheiro. A trama gira em torno do casal Max e Elena, cujas vidas são afetadas pela desigualdade econômica e pela exploração de tempo como recurso. Nesse mundo de ficção-científica, pessoas podem vender seus anos de vida em troca de recursos financeiros. Algo bem fantasioso, mas nem tanto, concordam? Confesso que as atuações deixam a desejar e a narrativa poderia ser melhor. Ainda assim, causa reflexões super importantes numa pegada meio “black mirror” de transmitir a ideia.
Ouvi: episódio #18 – Educação Financeira para crianças, com Maria Gurgel? – do Podcast Talvez Você Deva Falar Sobre Dinheiro
Como ensinar às crianças o conceito de poupar, de esperar? Como explicar a diferença entre o querer e o precisar? Como não traumatizar? Como não mimar? Aqui preciso puxar sardinha para o nosso lado. Pensando no Dia das Crianças, Vic (@invistacomoumagarota) e eu gravamos com a Maria Gurgel, que depois de mais de 30 anos de mercado corporativo, tendo sido inclusive CEO de um grande fundo de pensão, fundou a Resguarde, um programa que leva educação financeira para crianças de uma forma lúdica e pedagógica. Este episódio traz diversas reflexões e dicas importantes, independentemente se temos filhos ou não!
Se achou o post de hoje interessante, compartilha com alguma mãe, pai, tio, tia, avô, avó que possa achar também. Educação financeira infantil também passar por romper o tabu de falar sobre dinheiro. Feliz dia das crianças e até a próxima! 😉
Oi, Carol!
Meu nome é Erica, essa pesquisa e o assunto de forma geral tenho pensando de forma muito intensa desde que minha filha nasceu - hoje com 7 anos.
Na Pulpa, usamos uma previdência como veículo... e concordo que dependendo do nível de maturidade financeira dos responsáveis, tem n possibilidades que podem ser avaliadas d acordo com o objetivo/prazo/etc. Estamos no Brasil, e essa realidade é para poucos...
Um detalhe importante: a previdência privada é uma ótima posição para longo-prazo pelas vantagens fiscais e sobre a única seguradora, outra vantagem da prev é que você pode fazer portabilidade sem custo, então não fica presa em um fundo pelo resto da vida :) Vale dar uma olhada com lupa nesse produto que se entender bem dele faz MUITO sentido para criança menoress de 10 (que vão deixa tempo suficiente o dinheiro parado).
Tamo junto na jornada pela educação financeira!