Inúmeros estudos escancaram que lidar com as próprias finanças é motivo de estresse e ansiedade para a maior parte das pessoas. E é sobre isso que quero falar hoje. Mas já adianto: não vou me ater (somente) aos casos em que o problema é a falta de grana.
Poderia discorrer páginas e páginas transcrevendo os trechos dos estudos, contudo, pouparei você disso, pois a intenção desta newsletter nunca foi ter um tom acadêmico ou abusar de economês (ufa!). Mas permita-me elencar apenas alguns achados interessantes dessas pesquisas para aquecer os motores.
Segundo a International Stress Management Association, no Brasil (ISMA-BR), em 2019, 73% dos brasileiros indicaram a incerteza financeira como principal fonte de tensão. Em 2021, a parcela subiu para 78%.
Estudo realizado, em 2022, pelo Instituto FSB Pesquisa mostra que apenas 8% dos brasileiros NÃO possuem preocupação com dinheiro.
Pesquisa do Instituto Locomotiva para a Xpeed (braço de educação da XP), aponta que 46% dos brasileiros afirmam ter frequentemente ansiedade em relação à sua situação financeira. E o pior: este receio leva 21% a evitarem abrir boletos e extratos e 39% a adiarem decisões financeiras pelo medo de encarar o orçamento.
Essas estatísticas são alarmantes! Como querer se educar financeiramente se, no fundo, somos dominados por sentimentos e emoções envolvendo medo, insegurança e ansiedade? Difícil, não?
Mas a questão é ainda mais profunda. Dinheiro não é um tabu somente quando há ausência dele em nossas vidas. O assunto também pode causar muita ansiedade (consciente ou inconscientemente) também num contexto de abundância.
Deu um nó aí? Calma que explico. Sabe aquela expressão “levar dinheiro para o caixão”? Será que alguém em sã consciência tomaria essa decisão por livre e espontânea vontade? Ou será que essa pessoa também está imbuída de medo e ansiedade com relação a um futuro imprevisível mesmo que não lhe falte dinheiro?
Seja pela ausência, seja pela fartura, fato é que o dinheiro é capaz de causar muita ansiedade em nossas vidas. Ao adicionarmos um contexto de uma expectativa de vida crescente, esse sentimento pode se intensificar ainda mais. Afinal, viver até os 100 anos pode se tornar uma benção ou uma maldição. Já escrevi sobre isso (clique aqui para ler).
Viver num cenário de escassez de dinheiro pode ser tão ruim quanto sofrer da síndrome de tio patinhas. Morgan Housel, autor do excelente livro “A Psicologia Financeira” (recomendo demais a leitura!), tem uma passagem maravilhosa que aborda a importância de entendermos o nosso suficiente. Vale uma breve transcrição:
Em uma festa oferecida por um bilionário em Shelter Island, o escritor Kurt Vonnegut informa ao amigo, e também escritor Joseph Heller, que o anfitrião, um administrador de fundos de hedge, ganhou mais dinheiro em um único dia do que Heller ganhou em toda a vida com seu popular romance Ardil-22. Heller responde: “Certo, mas eu tenho uma coisa que ele nunca vai ter... o suficiente”.
Suficiente. Fiquei chocado diante da eloquência simples daquela palavra – e por dois motivos: primeiro, porque eu mesmo também ganhei muita coisa ao longo da vida e, segundo, porque Joseph Heller não poderia ter sido mais preciso.
(trecho do livro “A Psicologia Financeira”)
Esteja você agora num contexto de escassez ou abundância, me responda: qual é o seu suficiente?
Chegar nesse “suficiente” pode ser bem mais complexo do que parece. Envolve ter uma intimidade profunda com os seus números. Mas uma vez que esse “suficiente” comece a demostrar clareza, qual é o plano para chegar nele? Qual método você utilizará?
O caminho para lidar com a sua ansiedade financeira consiste em entender as perguntas que deverão ser feitas para só então ir atrás das respostas. Confesso que me senti como o mestre dos magos escrevendo a frase anterior (kkkkk #cavernadodragãorocks). Mas, brincadeiras à parte, realmente acredito que a resposta certa para uma pergunta errada pode ter um resultado desastroso.
De forma pragmática: como ir atrás do seu “suficiente”? Tendo um planejamento financeiro sólido. É isso que trará decisões financeiras inteligentes. E são decisões financeiras inteligentes que contribuem para diminuir a ansiedade financeira.
Fiz questão de deixar “diminuir”, pois acredito que seria utópico almejar uma vida sem qualquer grau de ansiedade. Enquanto redigia o trecho acima fiquei me perguntando: faria sentido ter uma vida totalmente livre de ansiedade? Fui em busca de respostas e encontrei o seguinte:
“A ansiedade faz o organismo liberar substâncias como a adrenalina, tirando o corpo do momento de equilíbrio, por isso até mesmo episódios bons podem desencadeá-la”.
Quem disse isso foi Michelle Levitan Papelbaum, psicóloga e coordenadora do Ambulatório de Depressão Resistente do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Somos seres humanos. E, assim como tantos outros sentimentos, ter ansiedade é algo natural e esperado. Associá-la exclusivamente aos momentos conturbados não parece plausível, conforme exposto pela psicóloga.
Aliás, aqui posso falar com propriedade. Estou prestes a iniciar uma fase muito desejada por mim. Se eu dissesse que estou um poço de tranquilidade, estaria mentindo. Um mix de êxtase, felicidade e, claro, ansiedade estão se fazendo presentes. Mas o fato do meu pano de fundo financeiro estar sólido e equacionado é, sem dúvidas, um dos fatores que me permite deitar no travesseiro e dormir à noite sem que a tal da ansiedade ocupe um lugar de vilã na minha vida.
Em suma, o recado do texto de hoje é: não importa se você sente palpitações ao abrir um extrato ou está com a conta recheada. A ansiedade financeira pode estar presente em ambos os casos. Entender o seu suficiente e como chegar nele pode ser um dos caminhos para uma vida mais plena.
E já que músicas também podem ajudar a diminuir a ansiedade, finalizo o texto de hoje com esse trecho maravilhoso de “Amor para recomeçar” do Frejat:
Eu desejo que você ganhe dinheiro.
Pois é preciso viver também.
E que você diga a ele, pelo menos uma vez.
Quem é mesmo o dono de quem.
Aproveita e já escuta na íntegra prestando atenção na letra. É pura sabedoria em forma de música, não acha? Até a próxima! 😉
Perfeito !